nos teus olhos deixei-me perder nos verdes pastos,
como quando sonhamos acordados,
desfrutamos daqueles momentos com a máxima intensidade,
pensando que o mundo não existe...
Ali existem princepes e princesas,
As historias têm sempre finais felizes,
mesmo as mais tristes... que mais não seja
a princesa no colo do princepe...
As tuas palavras foram chaves
que abriram todas as minhas portas,
mesmo as mais bem fechadas...
e eu nem vi...ou
não quis ver....
Como mel, adocicaste-me o espírito,
com tudo o que queria ouvir...
fiozinhos desse mel teceram linhas do futuro
dourados pela luz do sol...
brilhavam para mim...
Como se possuisses espada e cavalo branco,
bradaste a todas as ameaças
que me surgiam pelo caminho...
eu, qual heroina,
deleitei-me nesse amor...
entreguei corpo e alma...
entorpecida
mas convencida
de que,
a felicidade guardada para mim
tinha finalmente chegado...
tinhas-me no teu colo,
guardada no teu abraço
deixei que me embalasses
na mais linda das canções....
como se voltasse ao útero
senti-me quente
escondida
segura...
olhava maravilhada para a tua face,
não conseguia ver mais nada....
só o futuro que desenhavas...
num dia como outro qualquer,
embalada ao teu colo,
perdida,
olhando para os verdes prados,
maravilhada com o sorriso que me davas....
Senti o peso da gravidade
nao quis perceber,
continuei fixada para cima
olhando,
maravilhada,
senti o baque da calçada
nas costas e por fim na cabeça...
O meu corpo contorcer-se em dor,
os vidros,
as pedras,
o entulho,
o lixo,
do chão que,
cuidadosamente lá tinhas colocado,
espetar-se,
entranhar-se,
dilacerarando-me a carne
tão profundamente
tão dolorosamente
alcançando as entranhas,
alcançando o coração e,
por fim,
a alma.
senti as gotas,
de sangue...
de lágrimas...
brotarem em mim...
mas ainda entorpecida,
recusava
a acordar.
nem o choque,
nem a dor,
nada sentia...
a visão foi-se focando novamente,
ainda olhando para cima...
e vi...
vi-te....
continuavas a sorrir da mesma maneira,
mas já não brilhavas,
já não maravilhavas,
já não aquecias...
era frio,
era pedra,
que via.
Fui acordando,
ao ver-te afastar,
sorrindo..
fui acordando,
ao ver-te desaparecer,
beijando,
embalando,
maravilhando,
entorpecendo,
outro alguém...
Só ai doeu verdadeiramente,
e,
não era o corpo,
estropiado,
que doia...
Era ver os sonhos,
passados,
futuros,
de sempre...
era ver a alma,
o calor,
o amor,
a confiança
que cuidadosamente fui salvando
da vida,
da amargura,
do infurtunio,
da maldade,
da tristeza...
Serem levados por ti,
o meu tesouro.
torturado,
roubado,
menosprezado,
pisado
perdido....
ficou o vazio que ele deixou,
ficou a tristeza de não o ter mais e,
pensar que,
se o quiser dar de novo,
não o terei...
quanto mais o tempo passa,
mais longe fico de ser feliz...
pouco e pouco,
vai-se tudo...
como tu foste...
acordando-me,
mostrando-me que na vida não há sonhos...
Que dos sonhos se acorda,
mais tarde ou mais cedo....